quarta-feira, abril 10, 2013

Anjos da Neve, de James Thompson


Em uma pequena cidade do extremo norte da Finlândia, uma jovem somali é encontrada morta e mutilada. Decidido a encontrar o culpado pelo crime horrendo antes que o caos e a indignação tomem conta do país, o inspetor Kari Vaara precisa investigar a vida de cada morador local para chegar ao cerne do crime. Porém, a busca pela verdade no gélido clima ártico envolve pessoas que ele conhece muito bem, e o culpado pode estar mais perto do que ele imagina.



Assim como Tríptico, descobri Anjos da Neve “sem querer”, olhando as prateleiras de uma livraria. A sinopse e a capa me conquistaram logo de cara. Por isso que eu gosto tanto das livrarias físicas, para se ter essa oportunidade de descobrir coisas novas, por acaso. No caso, Anjos da Neve é até um lançamento da editora Record, porém, por ser um policial não é aquele lançamento “com alarde” como tantos outros.
Comprei por impulso (tem desconto pra quem tem Saraiva Plus #dica) e não me arrependi. Muito pelo contrário.

A história começa, há poucas semanas do Natal, quando o corpo de uma bela Somali, uma atriz de segundo escalão é encontrado brutalmente assassino. O policial encarregado de conduzir as investigações é o Inspetor Kari Vaara, que à princípio pensa estar frente a um caso de rápida solução. Porém, obviamente, nada será tão fácil assim. E o suspeito “óbvio” pode não ser tão óbvio assim. Como é sempre bom salientar, em se tratando de livros de suspense/policiais , quanto menos se souber , melhor.

Situado na Finlândia, mais especificamente ao norte do país, em uma pequena cidade da Lapônia (sim, aterra de papai Noel), Anjos da Neve tem a geografia e o clima um elemento marcante na condução da trama. Tudo, pelo menos à primeira vista parece inóspito e extremamente frio (40 graus abaixo de zero! Não consigo nem imaginar. Aliás, imagino e minha imaginação congela de frio, rs)

Americano de nascimento, mas radicado há anos na Finlândia, o autor faz uma descrição crua e, ao mesmo tempo, pitoresca da vida naquele país e de seus habitantes. Ou pelo menos, na vida na região da Lapônia. Honestamente, não me deixou com vontade de conhecer o país- apesar de querer, um dia, presenciar a Aurora Boreal. Eu lembrei de quando li, há muito tempo, nos idos da minha adolescência, Os Pássaros Feridos. Amei o livro mas criei certa “relutância” por assim dizer, em relação à Austrália. Claro que essa percepção mudou com o passar dos anos e hoje o país dos cangurus está na minha lista de “desejados”. Talvez um dia isso aconteça em relação à Finlândia.


“Não falamos sobre ódio; odiamos em silêncio. É assim que somos. Fazemos tudo na surdina.”


Narrado em primeira pessoa, o livro mostra a ponto de vista do finlandês Kari em contrapartida da visão “estrangeira” de sua esposa americana daquela sociedade fechada e fria. O autor apresenta uma Finlândia que tenta parecer simpática e amigável, mas que aos poucos vamos percebendo um forte sentimento xenólito e racista. Sufia, a vítima, logo passa a ser vista como a “negra estrangeira”, como se ela deixasse de ser “gente”. Até certo ponto, as ações dos personagens advêm da aquela máxima de “o meio faz o homem” e neste caso, não só a frieza e o jeito taciturno como reflexos de um clima inóspito mas também a religião. Não é um conceito de religiosidade ferrenha como é muitas vezes apresentado em livros com cristãos neopetencostais mas uma religiosidade quase “histórica” e diversas vezes, castradora. Eu fui batizada na igreja luterana e confesso que nunca havia lido nenhum livro em que o luteranismo e suas ramificações fossem tão presentes em uma trama. Foi bem interessante.

Eu gostei muito do modo como Kari Vaara, o protagonista, é construído. A sua visão crítica de seus conterrâneos mas ao mesmo tempo, possuidor dos mesmos “defeitos”. O interessante é que Kari não é o típico herói genial e infalível. Muito contrário. Sua opinião muitas vezes “estreita” pode por tudo a perder. Ele acha que tudo será fácil demais e ali está seu primeiro erro. No decorrer das investigações, a situação vai tomando proporções maiores e inesperadas.

Gostaria de poder dizer mais, não só da trama, mas também dos outros personagens, porém qualquer coisa que eu diga poderá estragar a leitura. Na surpresa e na formação de teorias estão uma das maiores graças na leitura.


Uma das poucas coisas que eu não gostei no livro foi a forma como este é narrado, em primeira pessoa e no tempo presente. Nunca gostei de livros narrados no tempo presente; causam-me estranheza. Porém, apesar disso, a leitura flui tão bem que este “pequeno desconforto” acabou sendo deixado de lado.

Apesar de não ser especificamente gráfica, a linguagem empregada é bem direta e por vezes crua. Não vou negar que algumas passagens causam desconforto mas estão dentro de um contexto.

Anjos da Neve não está entre os meus livros policias favoritos, porém, foi sim uma leitura interessante e instigante, que me prendeu até a última linha e me deixou com vontade imensa de ler os outros livros da série.

Recomendo.

Título Original: Snow Angels
Autor: James Thompson
Editora: Record
Gênero: Romance Policial
Série: Inspetor Kari Vaara
Sub-Gênero/Assunto: Crime e Mistério, Racismo e Preconceito
Período: Atual. Lapônia, Finlândia.


Edição:

Com uma capa que eu , particularmente, acho belíssima, Anjos da Neve tem uma edição bem acabada. O único erro mais  perceptível que eu encontrei foi com o nome Sufia, grafado como Sofia, em algumas passagens. Além disso, senti falta de Notas do Tradutor em algumas passagens. Santo Google!


A Série

Livro 1-Anjos da Neve
Livro 2- Lucifer’s Tears –ainda inédito no Brasil
Livro 3-Helsinki White-ainda inédito no Brasil
Livro 4- Helsinki Blood-ainda inédito no Brasil

Outras Capas:

Além de extremo mal gosto, a capa da edição turca é "nada a ver". Sufia era negra, além de outros detalhes que estão errados. Affe.

4/5

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